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quinta-feira, 11 de junho de 2015

Robôs a serviço da medicina

Robôs a serviço da medicina

Problemas cardíacos, cerebrais e urológicos são tratados com ajuda de braços robóticos, que levam câmeras e instrumentos para dentro do paciente


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Operar com precisão a retirada de tumores em uma região de difícil acesso e liderar, em número, as cirurgias para retirada da próstata nos Estados Unidos (mais de 80% dos procedimentos) são alguns dos destaques do doutor “Da Vinci”. Com quatro braços e possibilidade de realizar cirurgia com mais de um instrumento, por meio de incisões de poucos milímetros, o robô é hoje a tecnologia mais avançada existente no Brasil, importada da empresa Intuitive Surgical, dos Estados Unidos, fabricante mundial do produto.
No Brasil, desde 2008 o Da Vinci pode ser visto em ação em três hospitais privados de São Paulo (Hospital Albert Einstein, Hospital Sírio Libanês e Hospital Alemão Oswaldo Cruz). Até hoje já foram cerca de 200 procedimentos com o equipamento em cada hospital. No segundo semestre, Curitiba deverá ter o seu primeiro Da Vinci, adquirido pelo Hospital Erasto Gaertner (veja quadro).
O robô não opera sozinho: é guiado por um cirurgião (sentado em um console) e acompanhado por mais dois médicos e um anestesista. O equiapmento permite uma visão ampliada em 15 vezes e com imagens em três dimensões do local da cirurgia. “O equipamento foi criado para operar durante a Guerra do Golfo, ocorrida em 1990. Mas, como o sistema é frágil, não elimina a presença do cirurgião. Sem utilidade para a guerra, os Estados Unidos aperfeiçoaram e começaram a utilizar o robô na mesma década”, explica o coordenador do Centro de Cirurgia Minimamente Invasiva e Robótica do Hospital Israelita Albert Einstein, Robinson Poffo.
O Einstein foi responsável pela primeira cirurgia cardíaca com a tecnologia no país, enquanto o Hospital Sírio-Libanês fez a primeira cirurgia de próstata com o auxílio do robô. As cirurgias cardíacas, retiradas de tumores de cabeça e pescoço e, principalmente, a extração total ou parcial da próstata (prostatectomia) são as cirurgias mais frequentes com o robô no país. “As doenças urológicas são muito comuns no país, com mais de 50 mil novos casos em 2010, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca). Diminuição do sangramento e da dor pós-operatória e risco menor de lesionar nervos que podem levar à impotência sexual ou incontinência urinária, são algumas vantagens do uso da ferramenta”, diz o coordenador de Cirurgia Robótica do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Carlo Camargo Passerotti.
A tecnologia une o comando robótico à laparoscopia, um procedimento minimamente invasivo. São feitas incisões de oito milímetros para introduzir os “braços” do Da Vinci e para levar uma microcâmera e instrumentos como bisturi, tesoura, afastador e pinça (que varia de tamanho) ao local da cirurgia. O instrumento é introduzido por meio de um tubo, chamado “trocar”. De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva (SBE), Maurício Simões Abrão, nas cirurgias para endometriose, com o uso do robô a tendência é fazer apenas uma incisão (de cerca de 20 milímetros) para introdução dos instrumentos. “Com isso, se consegue a articulação de várias pinças com apenas um corte”, explica.
Procedimentos feitos por meio de orifícios naturais do corpo – chamado de notes –, também são possíveis com o Da Vinci, e são ainda menos invasivos que a laparoscopia. “Uma cirurgia de retirada de vesícula pela vagina, por exemplo, não causa dor pós-operatória e deixa o paciente pronto para fazer atividades físicas em poucos dias”, diz o cirurgião e professor adjunto da Universidade de Strasburgo (França), Ricardo Zorron. Em 2003, o médico realizou estudo em hospitais públicos do Rio de Janeiro como parte de sua especialização em robótica na Universidade de Humboldt (Ale­manha). Foram feitas 30 cirurgias para retirada de vesícula utilizando robótica, com equipamento emprestado do exterior.
Preço
Nos Estados Unidos, o robô sai por US$ 3 milhões; no Brasil, pelo triplo do valor. A manutenção e as pinças utilizadas também não são baratas. Planos de saúde não costumam fazer a cobertura deste tipo de intervençaõ também. Mesmo assim, apesar do alto custo, tanto para o hospital , quanto para quem é operado, o custo-funcionalidade compensa na maior parte dos procedimentos. Ou seja: o paciente se recupera mais rápido, gasta menos com internação, remédios e diminui a chance de ter infecção hospitalar. “Uma cirurgia para retirada de um tumor no cérebro, que antes levava quase quatro horas e eram necessários cortes na mandíbula e pescoço, hoje é feita em 40 minutos, e com tempo de internação de apenas dois dias”, diz o gerente médico do Centro Cirúrgico do Hospital Sírio-Libanês e cirurgião de cabeça e pescoço do Hospital das Clínicas de São Paulo, Sérgio Samir Arap. Além do Da Vinci, o hospital conta hoje com um equipamento chamado Artis Zeego, que também tem tecnologia robótica, e é uma espécie de arco cirúrgico. O equipamento, comprado no ano passado, foi utilizado em cirurgias do ex-vice-presidente José Alencar. “Ele é o ‘olho’ do cirurgião no procedimento vascular minimamente invasivo, pois consegue identificar precisamente o local onde está o aparelho”, esclarece Arap.
Desvantagens
A cirurgia realizada com tecnologia robótica, além do alto custo, não oferece a sensação tátil para o cirurgião. “Você não consegue pegar o tecido e saber o que ocorre. Por outro lado, tem a visão ampliada e melhorada, que compensa esta perda”, diz o cirurgião Sérgio Arap. Ele ressalta que a indicação de uma cirurgia com o Da Vinci deve ser bem analisada pelo médico e o paciente. “Em casos de tumores de fácil acesso, não traz nenhuma vantagem. Em tumores que atingem os ossos, o robô também não tem força suficiente para cortá-los, e ele vai mais atrapalhar do que ajudar. A avaliação deve ser cautelosa.”

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