O
Sacro Império Romano Germânico, que existiu desde o
século VIII até
1806, é considerado o primeiro
Reich alemão (
Reich, Império, em alemão, termo usado para descrever os sucessivos períodos históricos do povo alemão). No momento de maior extensão territorial, o Império incluía o que são hoje a Alemanha, a
Áustria, a
Eslovênia, a
República Checa, o oeste da
Polônia, os
Países Baixos, o leste da
França, a
Suíça e partes da
Itália central e setentrional. A partir de meados do
século XV, passou a ser conhecido como o "Sacro Império Romano da Nação Germânica". O Império Alemão de 1871-
1918 é chamado de o Segundo
Reich, de modo a indicar a sua descendência do império
medieval. Segundo o mesmo raciocínio,
Adolf Hitler referia-se à
Alemanha Nazi (
1933-
1945) como o
Terceiro Reich.
O termo "
germanos" é usado para referir-se ao grupo ou grupos étnicos oriundos da Idade do Bronze Nórdica, que falavam
línguas germânicas e ocupavam a chamada
Germânia. A partir do período histórico do Sacro Império, pode ser empregado o termo "alemães" para designar os habitantes do Império.
Entre 800 e 70 a.C., as tribos germânicas no norte migraram para território celta, avançando até os rios Oder e Reno e para o que é hoje a Alemanha meridional.
Por volta de
58 a.C., os
romanos, por meio de uma sucessão de campanhas militares, tornaram o Reno a fronteira nordeste do
Império Romano, o que levou à romanização da margem esquerda do rio e a incorporação das sociedades celtas centro-europeias ao Império. Construíram-se fortes romanos em
Colônia,
Tréveris,
Coblença,
Mogúncia e em outros locais de modo a permitir a defesa da fronteira renana, onde os romanos e os germanos se encontravam frente a frente. Em
9 d.C., um exército romano chefiado por
Públio Quintílio Varo foi derrotado pelo chefe germano
Armínio, na
Batalha da Floresta de Teutoburgo. A
Germânia até o Reno e o
Danúbiopermaneceram fora do Império Romano.
A partir de 90, os romanos construíram o
Limes, uma linha defensiva de 550 quilômetros do Reno até o Danúbio, planejada para conter as incursões dos bárbaros germânicos na fronteira, bem como uma série de fortificações (como os de
Wiesbaden,
Augsburgo,
Ratisbonae
Passau). O
século III assistiu à aparição de grandes tribos germânicas ocidentais -
alamanos,
francos,
catos,
saxões,
frísios,
turíngios. Em cerca de 260, os germanos finalmente romperam o
Limes e a fronteira do Danúbio.
No
século IV, o avanço dos
hunos Europa adentro deu início a um período chamado de
Grandes Migrações, que mudou completamente o mapa do continente europeu. O Império Romano passou a lidar com constantes invasões de tribos germânicas, o que acelerou a queda do Império, que estava passando por momentos de crise e decadência. Em 476 a cidade de Roma foi conquistada pela tribo germânica dos hérulos, marcando o fim do Império Romano do Ocidente.
As antigas
províncias romanas ao norte dos
Alpes já eram
cristãs desde o
século IV, e centros cristãos, como Augsburgo, foram mantidos mesmo após a queda do
Império Romano do Ocidente. Entretanto, a partir de 600, houve um novo esforço missionário cristão dirigido às tribos bárbaras. Os
mosteiros de
Vurzburgo, Ratisbona,
Reichenau e outros foram fundados por
monges irlandeses. A atividade missionária no Reino Franco continuou pelas mãos do monge
anglo-saxão Bonifácio, que estabeleceu o primeiro mosteiro a leste do Reno, em
Fritzlar.
Dioceses episcopais sob autoridade papal foram criadas para propagar a fé cristã nas terras germânicas.
Idade Média[editar | editar código-fonte]
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Francos e Sacro Império Romano-Germânico
Em 751, Pepino, o Breve, mordomo do palácio sob o rei merovíngio, assumiu o título de
rei dos
francos e foi ungido pela
Igreja; os reis francos passaram então a atuar como protetores do
Papa. Os sucessores de Pepino lançaram uma longa campanha contra os pagãossaxões, os quais terminaram por ser conquistados e convertidos a força, quando suas terras foram anexadas pelo Reino Franco.
Entre 843 e 880, após disputas entre os netos de Carlos Magno, o império carolíngio foi dividido, conforme o
Tratado de Verdun (843). O império germânico desenvolveu-se a partir do reino franco do leste, a
Frância Oriental (
Francia Orientalis) (a porção ocidental se tornou a atual França e a central foi absorvida pela Alemanha e França, menos a região sul que se tornou o norte da Itália). A linhagem carolíngia oriental extinguiu-se com a morte de
Luís, o Menino (911), filho de
Arnulfo da Caríntia. De 919 a 936, os povos germânicos (francos, saxões,
suábios e bávaros) foram unidos pelo Duque
Henrique da Saxônia, que assumiu o título de rei. Pela primeira vez, o termo Reino dos Germanos (
Regnum Teutonicorum) foi aplicado ao reino franco oriental.
Em 936,
Otão I, o Grande foi coroado rei em
Aachen. Fortaleceu a autoridade real ao nomear
bispos e
abades como príncipes do Império (
Reichsfürsten), estabelecendo uma igreja nacional (
Reichskirche). Em 951, casou-se com
Adelaide da Borgonha (viúva do rei dos
lombardos), recebendo então a coroa lombarda. As principais ameaças externas ao reino foram contidas quando Otão derrotou os
húngaros na
Batalha de Lechfeld (955) e subjugou os
eslavos entre o Elba e o
Oder. Em 962, foi coroado imperador, em Roma, a exemplo de Carlos Magno, passando a exercer portanto uma forte influência alemã sobre o Papado.
Em 1033, a
Borgonha foi incorporada ao Império dos Germanos, durante o reinado de
Conrado II, primeiro imperador da dinastia sália (ou
francônia).
Durante o reinado de seu filho, Henrique III, a Alemanha apoiou a reforma cluniense da Igreja — a "paz de Deus", a proibição da simonia (compra de cargos eclesiásticos) e o celibato dos sacerdotes. A autoridade imperial sobre o Papa atingiu o ápice. O Império continuava a expandir-se para o oriente — uma fortaleza imperial (Pfalz) foi construída em Goslar.
A partir de 1100, fundaram-se novas vilas em torno de fortalezas imperiais,
castelos, palácios episcopais e
mosteiros. As vilas começaram a estabelecer direitos e liberdades municipais, enquanto a população rural continuava na
servidão. Diversas localidades tornaram-se Cidades Livres Imperiais, que não dependiam de príncipes ou bispos, mas estavam diretamente sujeitas ao Imperador. As cidades eram governadas por patrícios (comerciantes). Os artesãos formaram
corporações, regidas por normas estritas, que procuravam obter o controle das cidades. O comércio com o oriente e o norte intensificou-se quando as principais cidades comerciais se uniram na
Liga Hanseática, sob a liderança de
Lubeque.
A expansão germânica em direção ao oriente fez com que camponeses e citadinos alemães, bem como a Ordem Teutônica, colonizassem territórios habitados pelos eslavos a leste do Oder (
Boêmia,
Silésia,
Pomerânia,
Polônia e
Livônia), formando vilas e cidades.
Em 1180, Henrique, o Leão foi considerado fora-da-lei e a Baviera foi outorgada a
Otão de Wittelsbach (fundador da dinastia que governaria a Baviera até 1918); a
Saxônia foi dividida.
O período de 1184 a 1186 assistiu ao zênite do império de Barbarossa. O poder dos senhores feudais foi reduzido através da nomeação de funcionários imperiais. A sofisticação da vida na corte levou ao desenvolvimento da cultura e da literatura alemãs.
Entre 1212 e 1250,
Frederico II estabeleceu um Estado moderno e com administração profissional na
Sicília. Continuou a conquista da Itália, causando conflitos com o Papa. No Império, concederam-se grandes poderes soberanos a príncipes seculares e eclesiásticos, o que fez surgir Estados territoriais independentes. O conflito com o Papa minou o poder do Império, pois Frederico II foi três vezes excomungado. Após sua morte, a dinastia dos Hohenstaufen caiu, seguindo-se um interregno durante o qual não houve Imperador.
Em 1226, a Ordem Teutônica conquistou e evangelizou partes da
Prússia, cuja população foi dizimada por aqueles cavaleiros, que haviam sido convidados a entrar na Polônia por Conrado da Masóvia, um duque polonês. Mas a partir de 1300 o Império começou a perder território em todas as suas fronteiras.
O fracasso das negociações entre o Imperador
Luís IV e o Papado fez com que, em 1338, seis dos sete
eleitores declarassem em
Rhens que doravante a eleição por todos ou pela maioria automaticamente conferiria ao eleito o título real (rei dos romanos) e o governo do Império, dispensada a confirmação papal. Entre 1346 e 1378, o Imperador
Carlos IV de Luxemburgo, rei da Boêmia, procurou restaurar a autoridade imperial.
Em meados do
século XIV, a
Peste Negra dizimou a Alemanha e a Europa. Os
judeus foram perseguidos com pretextos religiosos e econômicos; muitos fugiram para a Polônia.
A
Bula Dourada de 1356 determinava que, no futuro, o Imperador seria escolhido por sete eleitores — os arcebispos de Mogúncia, de
Tréveris e de
Colônia, o rei da Boêmia, o conde Palatino do Reno, o duque da Saxônia e o Marquês de Brandemburgo.
Em seguida aos desastres do século XIV, a sociedade europeia moderna veio à luz gradualmente, resultado de mudanças econômicas, religiosas e políticas. Surgiu uma economia monetária, que provocou descontentamento entre cavaleiros e camponeses. Um sistema proto-capitalista evoluiu aos poucos a partir do feudalismo. A família Fugger, por meio de suas atividades comerciais e financeiras, ganhou notoriedade; seus membros tornaram-se homens de finanças junto a governantes eclesiásticos e seculares.
A nobreza viu o seu monopólio das armas e das habilidades militares ser minado com a aparição de exércitos mercenários e de soldados de
infantaria. Tornaram-se comuns as atividades de nobres inescrupulosos (os
Raubritter, que cobravam impostos ilegais). A partir de 1438, os Habsburgos, que controlavam a maior parte do sudeste do Império (o que corresponde hoje a Áustria e Eslovênia e, depois de 1526, Boêmia e
Morávia), lograram assegurar para si a dignidade de Sacro imperador até 1806 (exceto no período 1742-1745). Esta situação, porém, causou crescente desunião entre os governantes territoriais alemães e impediu que, diferentemente do que ocorreu na França ou na Inglaterra, todas as regiões da nação fossem reunidas em um só Estado nacional.
Durante seu reinado (1493-1519), Maximiliano I procurou reformar o Império: criou-se uma Suprema Corte Imperial (
Reichskammergericht), cobraram-se impostos imperiais, aumentou-se o poder da
Dieta Imperial (
Reichstag). As reformas, entretanto, foram frustradas pela contínua fragmentação territorial do Império.
nome: Elias